segunda-feira, 20 de julho de 2009

Seja bem-vindo!


- Oi tudo bem? Pode entrar, fica à vontade. Não! Não senta aí! Quer dizer, senta...ah, sei lá! Sente-se onde quiser. Só tira as roupas de cima da poltrona, ficará mais confortável! Não deu tempo de colocar os livros no lugar, afinal os dias tem sido de uma grande correria. Acho que precisava de umas 5 horas a mais a cada final de tarde. Cansada? Eu? Não...quer dizer, sim, às vezes. Dormir? Tenho dormido bem...dizem que quanto mais idade menos sono as pessoas precisam, né? Durmo umas 5 horas, tá bem assim? Não? Cinco horas seria bom se eu estivesse com 70? Humm...é...tens razão! Ah, mas nisso se dá um jeito. Dorme-se quando pode. Quer conhecer a casa? Não tenho muito o que apresentar de novidades. Tem algumas coisas que terás que ajudar a pôr em ordem. Há uma mudança toda por fazer em breve e alguns consertos também. Lembra do quadro na parede, pois é...as fotos seguem ali...é mural que chama, né? Isso! Seguem ali. Segue também o espaço vazio. Quem sabe tu não podes ajudar a preencher, pois acho que sabes para quê serve ele. Estou tentando deixar tudo mais clean e arejado, sabe? Amplo? Aberto? Claro? Cheio de luz e sol? É, bem lembrado! Amo o sol! Mas não adianta...tu sabes que levar o carro para lavar é prenúncio de chuva na certa. Pode ser aos 28, aos 29 ou aos 50, 69, 76...vai ser sempre assim! Aqui ficam as contas, ali, na outra gaveta, papéis de toda ordem. Os sonhos? Estão por todos os cantos. Dá para respirar sonhos aqui! Só não voa! Qualquer coisa tem uns halteres no chão...são para exercícios, mas se precisar voltar para a realidade, amarra-os nos pés, sem medo! Aqui alguns livros que devem ser lidos nas próximas férias de verão, ali os remédios da alergia, ali os cobertores para o final do inverno. Estás acompanhando? Se eu tiver que ir com mais calma me avisa, ok? Não sei se te sentes mais cansado ou se ainda estás com tudo em cima, como eu! Se bem que já estive melhor, logo que comecei! Calma, por sinal, é algo a ser cultivado mais em umas situações e menos em outras. Não se acostume demais com coisas que não estão sendo profícuas, mas sigas sabendo dar as chances necessárias para que as distorções possam ser corrigidas...sem o quê? Sim, sim! Sem exageros! Ali é o livro de culinária, os amigos gostam! Ah, quanto à família e aos amigos...saibas cultivar todos e cada um, certo? Uns precisam de água diariamente, outros semanalmente, eles são diferentes. O fato é que a casa deve estar sempre aberta para recebê-los. Se o lugar é iluminado, muito disso deve-se a eles, a todos eles! Quando não estiver tudo bem? O que acontece? Ah, os amigos saberão, certamente. Bom, nestes dias feche as janelas e dê um tempo do mundo. Mas não estranhe se algum deles vier correndo bater na porta! Eles são bem atentos. A família vai, sim, se reunir em torno da mesa e da tv. Eles gostam disso. Gostam de fotos também! Bom, em linhas gerais, acho que era isso que precisavas saber para começar, né? Tens alguma pergunta? Muitas? Ah, certo! Bom, mas é normal para a primeira semana. Provavelmente terás muitas dúvidas também. Olha, se precisares qualquer coisa, podes perguntar...tentarei ajudar no que for possível. Naquilo que eu já souber responder. Para outras tantas coisas acho que vais ter que procurar as respostas! Ah...desculpe perguntar novamente seu nome... Vinte e nove? Muito prazer! Seja bem vindo!

domingo, 19 de julho de 2009

Combos!


Já perceberam a popularidade da expressão Combo? Pois é...esses dias estava pensando nesta palavra. Antes dela surgir eu sequer sabia o que era. A primeira vez que ouvi foi com a NET...NET Combo, tudo em um só pacote: telefone, Internet e TV a cabo. Perfeito. Grande sacada! Então achei que Combo era vinculado à NET e só isso. Qual não foi minha surpresa ao ver a palavra em outro contexto, na fila do cinema. Combo: pipoca grande + refri + chocolate. Sim! Existem Combos em cinemas também. Mais um 3 em 1. Tudo em um só pacote. Perfeito, de novo! Não que eu goste de pipoca, mas tem seu valor comprar tudo junto por um preço reduzido.


Então comecei um questionamento mais profundo...por que será que outras coisas não podem também vir em Combos? Seria tão mais prático se na vida tivéssemos Combos nas mais diversas situações. Pensem comigo. No trabalho: problemas + soluções + aprimoramentos da situação. Seria um Combo profissional. Problemas haverão de existir sempre, mas eles poderiam vir com soluções, no pacote, e ainda aprimoramentos – teríamos, então, nosso devido reconhecimento pelo nosso Combo adquirido, ou constatado. No terreno amoroso: companheiro(a) legal + fiel + sincero? Ou então sair com alguém que seja bacana + ligue ou atenda o telefone no dia seguinte + não suma de repente no decorrer do percurso. Seria um kit básico, podendo ter upgrades no decorrer do caminho. Para as mulheres: já pensaram um pacote básico de mãos + pés + depilação por preço reduzido? Para os homens: currasco + cerveja + futebol, sempre os três andando juntos? Tudo pode ser transformado em um Combo. Um primeiro encontro legal: risadas + barzinho ou janta + boa sintonia? Seria um encontro Combo! Um domingo bacana envolveria parque + chimarrão + sol. Domingo Combo! Um dia de chuva: cama quentinha + filme + boa companhia. Dia de chuva Combo! Tudo na vida pode ser Combo.



A palavra, que me perdoem seus idealizadores, é feia pacas! Combo, oras! Mas ela é um reflexo das nossas necessidades aglutinadoras. Vamos juntar tudo! Colocar tudo em um mesmo pacote e baixar o preço, ou ter vantagens com isso. Ah, seria muito bom esses Combos últimos! Pena que impossíveis, alguns impraticáveis...



Além disso, talvez existissem os Combos do azar também, aqueles que acontecem nas nossas vidas esporadicamente, ou não. Tenho um amigo que se considera um azarado-mor. Aquele cuja Lei de Murphy pode ser aplicada a cada passo! Diz ele que se fosse dono de um circo a mulher gorila teria queda capilar, o anão cresceria e o equilibrista sofreria de vertigem. Combo do azarado! Tem aquela trilogia: nada dá certo + você tenta consertar + fica pior ainda. Combo do desastre, na certa! Não cairíamos na ingênua ilusão de que em existindo Combos eles trariam apenas as coisas boas em pacotes, né?



A mim agrada a idéia...mas desagrada também, já que Combos não permitem maior flexibilidade. E se eu quiser só a pipoca? Às vezes ela é mais cara sozinha do que no tal Combo...inferno isso! E se eu quiser só a TV? E se eu quiser apenas um dia de chuva? Apenas um chimarrão? Apenas o churrasco? Não dá... o modelo Combo vem sem separações! Vem com todos os opcionais aglomerados. Combo é combo e ponto! Sendo assim, melhor mesmo é que os Combos não ganhem muito mais espaço...tenhamos nós a liberdade de escolher itens a granel!

Descaminhos...


Fazia um breve tempo que estavam saindo. Gostavam de estar juntos e o tempo que compartilhavam era peculiar. Um tempo único, talvez até uma parada no tempo, no qual nada mais havia...apenas eles, beijos e a vontade daquele instante. Saiam apenas, e era isso! Sem promessas, sem ontem e, também, sem amanhã. Simples assim. Nem lembravam bem, ou sequer sabiam, o que os havia unido. Talvez gostos em comum, músicas, uma dança...talvez nada disso. Quem sabe justamente as diferenças, aquelas coisas que um tem e o outro não, que um faz mais e o outro menos, que um carece e o outro tem de sobra? Mas nada disso importava, a não ser o fato dos instantes que estavam juntos. Estes se sucediam. Entre os instantes não precisava haver nada. Nada havia. Os instantes em si é que eram apreciados.

O tempo, sempre ele, foi passando. Aqueles breves instantes foram se assentando de formas diferentes para cada um deles. O que antes era fácil de entender passou a ficar um tanto difícil. Não se pode, de fato, reproduzir os instantes por um longo tempo sem que isso tenha uma repercussão. Assim, já não sabiam mais se de instantes seguiriam, sem ontem nem amanhã, ou se isso incomodava. Não tocavam no assunto. Os fatos objetivos e concretos que os unira ainda poderiam ser vislumbrados ali: a música, alguns gostos, alguns jeitos, as risadas, as implicâncias provocativas que aproximavam-nos. Mas o tempo introduziu, não se sabe em qual deles, a vontade de sentir menos instantaneamente os outros fatores...o cheiro, o sorriso, a pele, a voz, o toque, o frio na barriga. Breves instantes pareciam bons, mas não eram mais suficientes. E o amanhã? E o ontem? A vontade de que os instantes ocorressem mais freqüentemente foi crescendo...não se sabe se nele ou nela. Mas não se falavam. Não sabiam se a recíproca era verdadeira, se encontraria eco no outro, se desejavam as mesmas coisas. Talvez não.

Os contatos se afastaram na tentativa de fazer prevalecer os instantes. Mas nada parecia estar igual. Como saber? Nenhum falaria, nenhum queria falar. Só que as ações são traiçoeiras e falam mais que palavras, muitas vezes. Muitas vezes, sozinhas, falam errado, comunicam distorções. Não se sabe se ele ou ela começou a ficar com receio de demonstrar o que realmente sentia. Melhor era deixar assim. Quieto. As pequenas tentativas de mostrar uma faísca de verdade do que era sentido, muito sutilmente, não haviam sido bem sucedidas. Nunca souberam se a recíproca era verdadeira. Poderia não ser, e isso certamente doeria. Aparentemente não era. Aparentemente. Não era. Era? Não se sabe se ele ou ela pensou que seria melhor evitar a dor. Recolheram-se.


Não existe fim...existem reticências. História comum, lugar comum...história de qualquer um. História que se repete, mais para uns, menos para outros. Finais diversos. Depende. Como diz a frase: a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. Pode haver reencontros também. Assim é. Pena que não se falaram, pena que, não se sabe se ele ou ela, ficou com a sensação de não ter sido bem recebido ao demonstrar o que sentia. Pena que recuaram. Recuaram? Ou não. No fim ainda as reticências... e Clarice Lispector:

“Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos”.