quarta-feira, 20 de maio de 2009

Comprando auto-ajuda!


Acho curioso e extremamente instigante o fato de ficar parada em frente a uma livraria. Não qualquer livraria, mas aquelas que vendem revistas também...papelaria, tudo junto. Estes dias estava saindo do cinema, dando uma volta pelo shopping e parei em frente a uma vitrine de livros e revistas. O fato curioso é que havia aproximadamente três fileiras de prateleiras divulgando livros de auto-ajuda. É incrível! Os títulos variam, temos para todos os gostos. Pai rico, pai pobre, pais brilhantes, professores fascinantes, como vencer nos negócios, quem mexeu no meu queijo, mulheres ricas e independentes, e por aí vai...sempre seguindo esta fórmula de título atraente (embora isto seja bastante questionável). Naquele momento, eu queria poder falar com alguém sobre o que me ocorria na cachola...como será que nossos antepassados viviam? Pobres das minhas avós ou bisavós, que tinham que aprender tudo...será que era menos complicado do que hoje em dia?
O fato é que elas aprendiam...aprendiam a lidar com os fatos! Fatos da vida. Algo que, para nós e em nossa sociedade atual, parece algo muito difícil. Assim, recorremos a fórmulas de sucesso, de amor, de emagrecimento. As pessoas devem se perguntar: ‘se alguém conseguiu e escreveu um livro sobre seu sucesso, por que não eu? Por que não eu? Também quero experimentar, também quero tentar, posso conseguir como ele, posso ser bem sucedido como pai, professor, amigo, amante, etc, etc, etc’. Nossa sociedade estimula e propicia este tipo de proliferação. E assim acabamos com as individualidades, pois vamos querendo imitar o outro, seguir uma fórmula de sucesso que não foi feita por nós, não tem nosso tamanho, pode não nos servir. E assim também desistimos de ir em busca da nossa própria maneira de fazer as coisas, de tentar coisas que tenham mais a ver conosco, a nossa própria verdade. Fica um consumo de sucesso que não sai do senso comum. Nunca tive paciência para ler tais livros e pode parecer muita prepotência querer julgá-los sem nunca tê-los lido, mas é que os títulos, por si só, já me causam certa repulsa, são meio reducionistas, digamos.
Não há dúvidas de que muitas pessoas ao lerem as dicas e conselhos dos livros possam até vir a se sentir ajudadas, e isso até é positivo, mas lamento o fato de que para isso tiveram que consumir um texto lugar-comum, ao invés de buscarem sua própria verdade. Parece que queremos varinhas mágicas! Eu tenho estes ímpetos também...confesso! Uma vez até pensei em comprar um livro que falava no pensamento positivo para atingir o que quer que fosse...acho que eu teria uma prova seletiva no dia seguinte! Mas não caí na tentação de querer milagres ou pó mágico. Fui para casa estudar! Se for possível ter tudo o que queremos de uma maneira rápida, fácil e indolor, por que não tentar? A resposta pode parecer dura, mas na vida não vamos conseguir muitas coisas de modo fácil, rápido e indolor. Precisamos abrir mão da posição anterior em que nos encontrávamos para evoluirmos, e isto implica saber conviver com tropeços, e, sobretudo, encarar as frustrações e limitações que são impostas pela realidade, sem que nada possamos fazer para mudar. Podemos, sim, mudar nossa forma de encarar os tropeços.
A busca pelo sucesso, pela perfeição, pela riqueza, nos dias de hoje, é muito atraente. Sonho de menina é ser modelo...mas pare aí! Não qualquer modelo, mas ‘A modelo’, uma segunda versão da Gisele Bündchen, ou uma substituta dela, de preferência!! Exigimos tanto de nós, e dos outros, mas somos ainda tão fracos para tolerar as esperas, os obstáculos. Os que não se deixam ficar atirados no chão ao primeiro tropeço seguem em frente...alguns recorrem aos livros de auto-ajuda, buscando ver como as coisas devem ser feitas, qual a fórmula devem seguir...outros vão por tentativa e erro, outros ainda, ponderam mais, ficam ressabiados.
Quando eu era pequena queria ser apenas caixa de supermercado. Aqueles botõezinhos da caixa registradora exerciam um grande fascínio em minha pessoa (e acredito em tantas outras crianças)! As caixas tinham que digitar todo o preço (incluindo os dígitos 00 ou 000, quando o artigo custava mais de mil cruzeiros, cruzados, cruzados novos...enfim!). Hoje é bem mais rápido, com códigos de barra. Hoje é bem mais fácil ser caixa, além do que se evita muita LER. Mas quando eu era pequena eu via que depois de digitarem de forma surpreendentemente rápida, elas ainda carimbavam os cheques...isso era meu deleite final! Como eu queria ser caixa de supermercado! Podia ser caixa de banco também, mas não seria tão divertido. Hoje em dia, creio que eu seria uma criança ET se dissesse isso. Não tem, de fato, muito mais graça nas pequenas burocracias do cotidiano! Os sonhos estão mais altos, já desde a infância. E, para lidarmos com as frustrações advindas de uma talvez improvável realização imediata de tais sonhos, voltemos à livraria! Vamos aos livros de auto-ajuda! Sem preconceitos, cada um que encontre a sua melhor forma de se auto-ajudar, mas eu ainda acredito que se cada um de nós se dispusesse a fazer sua própria fórmula sob medida, teríamos soluções mais criativas, perenes e autênticas...um pouco na contramão da massificação subjetiva!

Um comentário:

  1. No mundo dos "enlatados" (comida enlatada, programas de televisão enlatados e etc) ainda temos que aturar felicidade enlatada vendida em forma de livros. Para muitos, hoje em dia, é simplesmente insuportável conviver com o "não saber", com o "obscuro" do dia a dia e por isso recorrem a fórmulas para viver bem, para ser feliz. Mal sabem eles que o "não saber" é o que impulsiona a humanidade a "querer saber" e principalmente a "fazer diferente". Isto sim é evolução.

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