
Dia desses ouvi a conversa de duas meninas de 13 ou 14 anos. Ouvi de bisbilhoteira mesmo. Na fila do supermercado, involuntariamente...ou não! As duas carregavam chocolates nas mãos, prontas para passar no caixa. Enquanto esperavam olhavam aquelas revistas que ficam próximas ao caixa: ‘Tititi’, ‘Quem’, ‘Capricho’ etc.
-{Que ridículo esses dois aqui...é óbvio que iriam se separar...}
-[É...tava na cara!]
-{Essa coisa de ‘felizes para sempre’ não existe! Não existe príncipe encantado!}
Por um momento fiquei em choque! Elas tinham uns 13 ou 14, 15 anos no máximo, mas falavam como se já tivessem passado pelas maiores agruras amorosas nos últimos 25 anos! Tudo bem que a precocidade é a tônica dos dias atuais, mas...acho que com 13 anos eu ainda achava que existiam príncipes encantados. Hoje em dia já é possível saber que até Papai Noel é mais real que um príncipe, mas com 13 anos eu não pensava assim!
Voltei para casa dirigindo, mas a frase da menina não me saia da cabeça. Em uma tentativa de acompanhar o pensamento dela, e abdicar do meu, fiquei conjecturando um príncipe encantado nos dias atuais e percebi que seria muito ridículo. Tive até pena do pobre nobre, por mais paradoxal que a expressão pareça.
Para começo de conversa a menina precisaria de um baile para conhecer o sujeito, pois ninguém jamais viu príncipe em festa Rave, né? Mas digamos que este fator não fosse o mais impossível de acontecer, já que de tempos em tempos as freqüentadoras das Raves colocam longos vestidos brancos bordados e dançam a valsa com os pais em bailes de debutantes, nos mais tradicionais clubes da cidade! Deixa para lá...
Bom, passemos à fase da primeira saída juntos. Já imaginaram o príncipe indo apanhar a moça em casa em seu belo cavalo branco? Ele teria que tentar sair antes das 18:30 do seu castelo (alguma possível loja de brinquedos), para não pegar a hora do rush na cidade. Depois deveria evitar as avenidas mais movimentadas, tentando caminhos alternativos, também congestionados, buscando evitar que o cavalo ficasse estressado com as buzinas, querendo sair a galope pelo meio dos carros. Também teria que cuidar da velocidade quando passasse em alguma avenida com radar móvel. Se fosse parado teria que entregar sua habilitação ao fiscal de trânsito:
-{Documentos do...do...do veículo e habilitação.}
-[O único documento que trago comigo é este, meu caro.]
O príncipe então entregaria um pergaminho com seu título de nobreza e a história de seu condado no reino, contando os feitos dele com seu cavalo.
-{Vou deixar o senhor seguir porque estamos preparando uma batida para pegar um carro roubado e um meliante foragido. Na próxima é multa e guincho!}
Além disso, sem rádio no cavalo, ou MP3, para se distrair, o príncipe acabaria dormindo, parado no mesmo lugar por tantos minutos, ou estressado, abdicando de sua pompa e sacando sua espada para duelar com algum motoboy que porventura viesse a incomodar seu cavalo querendo chegar mais rápido à sinaleira!
Passada esta etapa, finalmente chegaria no prédio da moça. Teria que passar por duas portas de ferro para se identificar e falar com o porteiro, pedindo que ele chamasse a donzela. Chegando na porta, ela subiria em sua garupa. Iriam felizes em direção a... onde vai um príncipe mesmo? Talvez a moça sugeriria um barzinho ou um lugar aconchegante da cidade. Em qualquer lugar, porém, o nobre teria dificuldades com o cavalo! Onde estacionaria o bicho? Parquímetro? Talvez... poderia pegar o ticket e colar com um pouco de cuspe no pelo do bichano. Ou quem sabe prender na crina com um clips. Há, também, a possibilidade de estacionar naqueles Safe Park...
-{Pode deixar a chave aí patrão!}
-[Chave?]
-{Opa...ah...só um minutinho porque nunca guardamos um cavalo...vou perguntar pro Silva.}
-[Muito agradecido por sua atenção...estou aguardando sua audiência com o Senhor Silva se encerrar para saber das deliberações finais...]
-{Ô Silvaaaa...seguinte...mané ali quer guardar o cavalo aqui...roupa estranha hein, mas tem uma gatinha na garupa...}
-
-{Certinho patrão...por 30 barão a gente deixa o pangaré aqui por uma hora!}
-[Barão? Tenho apenas um pouco de ouro comigo...]
-{Ô chefia...beleza! Tá servindo também!}
Escolhido o bar, o pobre príncipe teria que beber um chope, ou uma Smirnoff Ice, acompanhando a moça. Talvez já estivesse até meio sonolento, pois seus bailes costumavam acabar à meia noite e já seriam mais de duas horas da manhã. Meio atordoado com tudo aquilo perceberia, também, que a moça sequer usava sapatos de cristal, mas sim uma bota gigante com um salto que mais lembrava a pata de seu cavalo. Até ficou com um certo medo daquilo...
A moça, por sua vez, também não estaria se divertindo com aquele cara meio esquisito, de sorriso eterno e todos os fios de cabelo perfeitamente alinhados no mesmo lugar. Mulher também não gosta de homem que fala tudo explicadinho, tem sono em plena meia noite de sábado e usa espada na cintura e mangas fofas na camisa...ah! Que sem graça! Também não haveria nenhum tipo de rusga entre eles? Briguinhas bobas? Discussões acaloradas porque ele queria ver o futebol ou a Fórmula 1 na TV, antes de sair para algum lugar e ela não queria esperar? Que chatice! O príncipe sequer teria time de futebol!
Assim, tive que concordar com a menina de 14 anos e, de certa forma, agradecer pela constatação prematura dela de que príncipes encantados não existiam. Tudo bem que Ogros também não parecem ser uma alternativa viável, mas senti um pouco de saudades do bom e velho sapo para o qual nunca dei bola quando lia as histórias infantis. Talvez eles fossem interessantes! Concluí então que é preciso procurar um sapo, entre príncipes e Ogros o único ser real! Mulheres! Esqueçam os príncipes...voltem-se aos brejos!

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