sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Silêncios

Ouvi em uma música, certa vez, a seguinte frase:

“Palavras e silêncios que jamais se encontrarão...”

Se não me falha a memória é do Zeca Baleiro e do Fagner (para dar os devidos créditos e não me acusarem de omitir citações às devidas autorias).
Nunca uma frase disse tanto sobre falar e calar.

Quem cala opta por não falar, mas marca, ainda assim, uma posição. É o famoso “quem cala consente”. Temos sempre duas opções: ou falamos, ou calamos e ambas não passarão em branco.
Certas vezes o melhor é calar, deixar como está, seguir em frente, tocar adiante...passa!
Às vezes é preferível falar, cuspir, deixar sair tudo que engasga, que tranca, que sufoca, porque em demasia mata...

Qual a melhor opção em qual momento? Qual a melhor decisão? Existe?
Há silêncios que gritam, nenhuma construção em palavras seria capaz de exprimi-los tão bem... e nós, muitas vezes, não conseguimos ouvir. Ensurdecemos! Precisamos da palavra, do dito, precisamos fazer com que o estímulo sonoro aguce nosso tímpano, chegue ao nosso cérebro e o faça funcionar...ou não!

O não falar, o vazio de palavras deixa sempre no ar a possibilidade de ter existido outras representações. 'Será que não poderia estar oculto naquele silêncio uma outra versão, uma outra informação? Será que eu entendi exatamente o que aquele silêncio quis dizer?' Como pode um silêncio querer dizer algo? Pode. E, quando diz, diz alto e diz firme. Diz não, diz sim, diz tchau, diz voltei, diz chega, diz desculpa, diz tarde demais, diz o que não se pode ou o que não se quer dizer...diz tudo.

Existem momentos em que calar é, de fato, a melhor opção. Não há palavras que caibam em determinados silêncios, não há tradução para eles – sejam de dor ou alegria. Talvez por isso as palavras e os silêncios jamais irão se encontrar. Possibilidade vetada.

O silêncio pode ser a ceifa, mas pode também guardar a esperança. Traiçoeiro. Enigmático, mesmo na mais franca objetividade. Guarda sempre um ar de mistério, de não-saber, de oculto, para quem quiser entendê-lo assim. Deixa no ar tudo, sem deixar rastros.

Assim é... sabendo ouvir os silêncios alheios e sabendo falar os nossos podemos recolher as palavras, quando elas não se fazem necessárias, deixar de lado o relato fraseado do óbvio, deixar de lado a recusa em entender o dito, mesmo sem ter sido dito.
Na dúvida, melhor deixar quieto, ficar quieto...não ultrapassar.

E a vida segue até que as palavras surjam novamente, quebrando a pausa, gritando em voz alta – mas que sejam verdadeiras, fortes e façam valer o que desejam realmente dizer.


Keep your clever lines
Hold your easy rhymes
Silence everything
Silence always wins
It’s a perfect alibi
There’s no need to analyze
It will be all right
Through the longest night
Just silence everything
(A-HA - Foot of the mountain)

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